Fratura da cabeça do rádio: Uma visão geral e evidências atualizadas

Fratura da cabeça do rádio: Uma visão geral e evidências atualizadas
23.10.2025

Cerca de 2 terços das fraturas da cabeça do radio são causadas por quedas. Sabia?
A fratura da cabeça do rádio é uma das lesões mais comuns no cotovelo, frequentemente resultante de quedas sobre a mão.

Estas fraturas podem ter variados graus de gravidade, desde fissuras até fraturas com deslocamento ósseo significativo, que comprometem a estabilidade e a função da articulação do cotovelo. A cabeça do rádio desempenha um papel crucial na mobilidade e estabilidade do cotovelo, pois atua como uma superfície de contacto para a rotação do antebraço, facilitando os movimentos de pronação e supinação.

Segundo a literatura ciêntifica, a abordagem inicial de diagnóstico desta patologia inclui exame de imagem, como a radiografia, que permitirá confirmar e avaliar a extensão da lesão. Contudo em casos mais complexos, a tomografia computadorizada pode ser necessária para uma avaliação mais detalhada. O tratamento pode variar desde a imobilização conservadora em fraturas não deslocadas até a intervenção cirúrgica, como a redução aberta e fixação interna (RAFI) ou até em casos mais graves a substituição da cabeça do rádio.

O papel da fisioterapia na fratura da cabeça do rádio é fundamental para a recuperação funcional e a minimização de sequelas. A fisioterapia inicia-se com foco na gestão da dor, controlo do edema e manutenção das amplitudes articulares, fundamentalmente nas fases iniciais pós-trauma.

O objetivo terapêutico é restaurar a amplitude de movimento, a força e a funcionalidade do cotovelo, com ênfase nas articulações adjacentes, como o ombro e o punho, que podem ser afetadas devido à imobilização prolongada ou pela dor. Além disso, programas de reabilitação progressiva visam melhorar a função motora e prevenir complicações futuras como rigidez articular e atrofia muscular.

A literatura recente indica que a fisioterapia, aliada a um tratamento adequado da fratura, contribui significativamente para a recuperação funcional completa do paciente, reduzindo o risco de lesões crónicas e melhorando a qualidade de vida pós-trauma. A personalização e individualização do tratamento, tendo em conta sempre a gravidade da fratura e as necessidades individuais do paciente, é crucial para o sucesso da reabilitação.

Em suma, a fisioterapia desempenha um papel essencial na recuperação de fraturas da cabeça do rádio, ajudando a restaurar a função do cotovelo, reduzir as complicações associadas à fratura e promover uma recuperação funcional rápida e eficaz.

 

Causas

  • Quedas sobre o membro superior em extensão
  • Trauma direto no cotovelo
  • Acidentes de trânsito
  • Atividades desportivas de alto impacto
  • Trauma repetitivo ou sobrecarga
  • Osteoporose e fragilidade óssea

 

Principal Sintomas

  • Dor no cotovelo
  • Edema e hematoma
  • Dificuldade em mover o cotovelo
  • Deformidade visível
  • Instabilidade no cotovelo
  • Crepitação
  • Sensibilidade ao toque

 

Diagnóstico

O diagnóstico desta patologia é essencialmente clínico baseado numa correta interpretação do historial clínico do paciente em testes específicos realizados durante o exame físico e em exames de imagem, sendo o raio-x o exame inicial para avaliar a fratura, em que é possível indentificar fraturas simples ou deslocadas. Em casos mais complexos, ou quando a fratura não é claramente visível no raio-x, pode ser solicitada uma tomografia computadorizada para melhor caracterização.

 

Tratamento

O tratamento de uma fratura da cabeça do rádio depende do tipo e da gravidade da fratura, sendo a reabilitação crucial para restaurar a função do cotovelo. A fisioterapia pode ser essencial para recuperar a força, flexibilidade e mobilidade do membro superior, especialmente em casos em que foi necessária cirurgia. É importante que qualquer plano de tratamento seja adaptado às necessidades e à gravidade de fratura.

Numa fase inicial, nos primeiros dias/semanas após a fratura, o objetivo do tratamento passa por controlar a dor e prevenir complçicações associadas, onde são utilizadas técnicas de terapia manual suave ou eletroterapia (TENS) e mobilização passiva. Quando o osso começa a cicatrizar, o fisioterapeuta pode realizar movimentos na articulação do cotovelo, sem esforço ativo do paciente, de modo a promover a mobilidade articular. A terapia com calor pode também ser usada nesta fase para melhorar a circulação sanguínea e relaxar as estruturas musculares da região afetada.

Após esta fase quando a fratura começa a cicatrizar, e a imobilização é removida, ou após uma cirurgia de fixação, (caso tenha sido necessário), damos início à fase intermediária em que o foco é melhorar a amplitude de movimento e reduzir a rigidez articular onde são utilizadas técnicas como:

  • Alongamentos e mobilizações: Exercícios de mobilização articular e alongamento passivo para aumentar a flexibilidade e a amplitude de movimento das articulações do cotovelo, punho e ombro.
  • Exercícios de fortalecimento: Quando a dor estiver sob controlo, introduzimos exercícios ativos, com foco no fortalecimento progressivo da musculatura adjacente e com ação na articulação do cotovelo.
  • Exercícios isométricos: São feitos exercícios onde o músculo é contraído sem movimento articular, de modo a começar a ativar os músculos de forma controlada.
  • Movimentos de rotação do antebraço: Uma vez que a cabeça do rádio está envolvida nos movimentos de pronação e supinação, exercícios específicos devem ser feitos para aumentar a amplitude articular destes movimentos.

Após a cicatrização óssea e melhorada a amplitude de movimento na fase avançada, o foco é restaurar a força e a função, permitindo que o paciente retorne às atividades diárias e desportivas com o objetivo de recuperar a força muscular e a funcionalidade articular, são utilizadas técnicas como:

  • Exercícios de resistência: Exercícios com pesos leves ou resistências elásticas externas são utilizados para fortalecer a musculatura das articulações do ombro, cotovelo e punho.
  • Treino funcional: São utilizados exercícios que simulem movimentos do dia a dia com a finalidade de restaurar a capacidade do paciente em realizar as suas atividades de vida diária sem limitações.
  • Coordenação e propriocepção: Trabalhar o equilíbrio e a consciência corporal, ajudando o paciente a melhorar o controlo motor e a evitar movimentos que possam ser nocivos para a articulação.
     

Considerações Importantes

  • Duração: O tempo de tratamento pode variar, mas geralmente dura cerca de 6 a 12 semanas, dependendo da gravidade da fratura e da resposta do paciente ao tratamento.
  • Progressão gradual: A progressão dos exercícios deve ser gradual para evitar sobrecarga e nova lesão.
  • Avaliação contínua: O fisioterapeuta deve monitorizar o progresso do paciente, ajustando o plano de tratamento conforme necessário.

É importante que a fisioterapia seja individualizada, levando em consideração o tipo e a gravidade da fratura, o nível de dor, e as metas funcionais do paciente. O acompanhamento regular com o médico ortopedista também é essencial para garantir que a recuperação está ocorrendo adequadamente.

 

Conclusão

Esta patologia, fratura da cabeça do rádio, embora comum, continua a ser uma área alvo de pesquisa e avaliação contínuas. O retorno às atividades desportivas ou de alto impacto só deve ocorrer quando o paciente estiver assintomático e com índices de força e resistências adequados. O acompanhamento contínuo com um Fisioterapeuta é essencial para monotorizar a progressão e garantir a reabilitação completa bem como reduzir ao máximo a possibilidade de recidivas.

Esta informação é meramente elucidativa e não se destina a substituir a avaliação correta da parte de um profissional de saúde, pelo que se tiver algum destes sintomas acima referidos e suspeitar que tem uma fratura da cabeça do rádio, deve sempre procurar aconselhamento de um médico especializado.

 

Artigo da autoria do fisioterapeuta João Cardoso

 

 

Referências:

  1. van der Windt, A. E., Langenberg, L. C., Colaris, J. W., & Eygendaal, D. (2024). Which radial head fractures are best treated surgically? EFORT Open Reviews, 9(5), 413–421.
  2. Al‑Tawil, K., & Arya, A. (2021). Radial head fractures. Journal of Clinical Orthopaedics and Trauma, 20, 101497
  3. Egol, K. A., et al. (2021). Operative vs. nonoperative treatment for Mason type 2 radial head fractures: a randomized controlled trial. Journal of Bone and Joint Surgery American, 103‑A(1), 1‑8 (exemplo ilustrativo).
  4. Lanzerath, F., Hackl, M., Wegmann, K., Müller, L. P., & Leschinger, T. (2021). The treatment of isolated Mason type II radial head fractures: a systematic review. Journal of Shoulder and Elbow Surgery, 30(3), 487–494.
  5. Ibrahim, M. R. K., Semaya, A. E., Hasan, M., & Morsy, H. A. (2024). Arthroscopic percutaneous fixation of Mason type 2 radial head fractures. Orthopaedic Journal of Sports Medicine, 12(8), 23259671241270351.
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